5 intercorrências na amamentação e como tratá-las
- Giselle Aguiar Pires
- 9 de nov. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 3 de jan. de 2022

Além de trazer inúmeros benefícios para a saúde do bebê, amamentar ajuda a fortalecer os laços entre mãe e filho. No entanto, algumas intercorrências podem dificultar essa ação, e podem aparecer já nos primeiros dias após o parto.
A realidade é que muitas mulheres ficam frustradas, carregam um sentimento de culpa e de incapacidade ao enfrentar problemas para amamentar, mas a boa notícia é que essas intercorrências são comuns e podem ser evitadas e/ou tratadas.
A principal orientação, desde o início, é observar a posição para a amamentação, tanto da mãe como do bebê. A correta pega e a livre demanda ainda são as principais recomendações para evitar os principais problemas que veremos a seguir. Em caso de dúvidas, o médico pediatra ou uma consultora de amamentação poderão ser muito importantes para solucionar dúvidas e saber como agir diante das dificuldades.
A descida do leite
Nos primeiros dias após o parto, as mamas se preparam para a produção de leite. É a chamada apojadura. Neste período, que pode levar até cinco dias, as mamas ficam maiores, bem cheias e algumas vezes quentes. Até a saída do leite, o bebê receberá o colostro, que tem a função de proteger o recém-nascido, pois é repleto de anticorpos.
O colostro, em muitos casos, começa a ser produzido ainda antes do nascimento, e não há nenhum problema nisso.
Depois do nascimento, quanto mais o bebê sugar, mais rápida será esta transição do colostro para o leite. Mas cada bebê tem o seu ritmo, e não há nenhum problema nisso. O importante é manter a calma e se certificar que a posição está correta e o bebê está mamando sempre que sente fome.
Ingurgitamento mamário (ou Leite “empedrado”)
Após a descida do leite e engatada a rotina da amamentação, pode ocorrer o acúmulo de leite na mama, o chamado ‘leite empedrado’. Esta situação dificulta a sua saída, deixando a mama endurecida e inchada, a pele avermelhada e bastante dolorida.
As causas desse problema são, em geral, o esvaziamento incompleto da mama, seja pelo fato do bebê não sugar todo o leite produzido ou a mulher não ordenhar a quantidade necessária, seja pelo uso da técnica incorreta, atraso no horário da amamentação ou a oferta de fórmula junto da amamentação.
Para tratar esta situação, podem ser adotadas as seguintes medidas:
Retirar o excesso de leite por meio de ordenha manual
Se necessário, realizar compressas mornas e massagem nas mamas para facilitar a saída do leite, cerca de 10 minutos antes das mamadas
Compressas frias após a amamentação, para diminuir a inflamação das mamas
Massagear suavemente os gânglios linfáticos nas axilas com movimentos circulares
Fissura mamária
Rachaduras no mamilo , geralmente, acompanhadas de dor e sangramento, são causadas por ressecamento dos mamilos, mas principalmente pela pega incorreta do bebê nas mamadas.
Essa intercorrência pode ser tratada com a correção da pega e, eventualmente, pomadas ou outros tratamentos indicados por um especialista. Espalhar algumas gotas do próprio leite materno e deixar secar naturalmente após cada mamada é uma ótima medida cicatrizante natural.
Caso a dor persista e seja muito intensa, impossibilitando a amamentação, as alternativas podem ser um bico de silicone para amamentar ou ordenhar o leite e dar ao bebê, preferencialmente com uma colher ou diretamente em um copo pequeno. Mamadeiras, copos com bicos ou canudos devem ser evitados, pois podem levar à confusão de bicos e prejudicar a amamentação.
É também importante evitar as receitas caseiras, pomadas ou medicamentos sem a indicação de um médico, que poderão agravar ainda mais o quadro e até mesmo contaminar o bico do seio com bactérias e outros microrganismos, que acabarão em contato com o bebê na mamada seguinte.
Baixa produção de leite (Hipogalactia)
A maioria das mulheres produzem leite suficiente para alimentar seus bebês e, geralmente, as queixas de baixa produção ou de “leite fraco” são reforçadas por insegurança, ansiedade e falta de rede de apoio das lactantes, que acabam tendo a sua amamentação prejudicada.
Caso a quantidade de leite realmente esteja insuficiente, isso será constatado pelo pediatra, através da avaliação de seu crescimento e do ganho de peso, durante as consultas. Nesses casos, o especialista poderá orientar sobre alterações na rotina da amamentação e, em último caso, a complementação com fórmulas para complementar a alimentação.
Antes disso, algumas questões serão verificadas, pois podem colaborar para aumentar a produção de leite. Entre elas, estão a oferta em livre demanda e a avaliação do posicionamento e da pega do bebê.
É também muito importante que a lactante mantenha uma alimentação equilibrada e preste atenção na ingestão de líquidos ao longo do dia. A hidratação é fundamental para a produção de leite.
Muita produção de leite (Hipergalactia)
A produção excessiva de leite não prejudica a saúde do bebê, mas pode causar algumas das intercorrências mencionadas acima, como o ingurgitamento mamário e a mastite, além de dificultar o processo da amamentação. É comum as mamães amedrontadas porque seus bebês engasgam com muita frequência no seio materno e também queixas de bebês inquietos, irritados ao seio, que não conseguem mamar tranquilamente.
O primeiro passo é o ajuste da postura de mamada: tentar encontrar uma postura em que o bebê esteja com a cabeça sempre mais elevada do que o seio da mãe, desta forma a gravidade irá auxiliar na diminuição do fluxo de leite.
Se os ajustes posturais não forem suficientes, pode-se utilizar outras estratégias:
diminuir o tempo de mamada com consequente aumento da sua frequência
realizar a ordenha antes da mamada , objetivando diminuir o primeiro reflexo de ejeção do leite
levar o bebê ainda sonolento ao seio , uma vez que a força de sucção pode ser menor
sustentar a mama utilizando os dedos “em tesoura” durante a mamada na tentativa de obstruir parcialmente a saída do leite
Mastite
O excesso de leite nas mamas, ou ingurgitamento mamário, pode eventualmente evoluir para um processo inflamatório, chamado mastite, que é causado pela obstrução dos ductos mamários ou pela entrada de bactérias nas mamas.
Geralmente, a mastite afeta apenas uma mama e, entre seus sintomas, estão inchaço, dor, vermelhidão e endurecimento das mamas, e pode estar acompanhada de febre, mal-estar, náuseas e vômitos.
Esse quadro deve ser tratado o mais rápido possível para evitar seu agravamento. O diagnóstico é dado por um médico ginecologista/obstetra e o tratamento mais comum é o uso de medicamentos, como anti-inflamatórios e antibióticos. Se possível, a amamentação não deve ser interrompida, pois auxilia, inclusive, no tratamento da inflamação.
Alguns hábitos simples podem ajudar na prevenção da mastite:
Esvaziar as mamas após amamentar
Amamentar na frequência solicitada pelo bebê, evitando que a mama fique muito cheia
Variar as posições de amamentação
Evitar o uso de roupas muito apertadas
Candidíase
Caracterizada pela infecção por um fungo, a candidíase pode atingir mamilo, aréola e ductos. Os principais sintomas são pele do mamilo e aréola fina, avermelhada e às vezes descamando, coceira, ardência, dor em agulhadas, sensação de queimação durante as mamadas. Em caso de suspeita, um médico deve ser procurado o mais rápido possível. O tratamento geralmente inclui medicação antifúngica.
Caso sejam observadas crostas esbranquiçadas na cavidade oral do bebê, o médico pediatra precisa ser consultado.
Mamilos lesionados, umidade e ambiente abafado são ideais para a proliferação desses fungos. O uso de conchas, protetores e absorventes facilitam ainda mais o aparecimento da candidíase. Por este motivo, deixar o seio arejar por alguns minutos após a amamentação é uma ótima medida preventiva, além de favorecer a cicatrização de eventuais fissuras. Outras medidas importantes são a higienização das mãos antes da amamentação e trocar o sutiã diariamente.
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