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Cuidado não parental e desenvolvimento infantil:

Repercussões de uma sociedade de pais e mães sem tempo

O atendimento prestado à criança em sua casa, na casa de outra pessoa ou em uma instituição, por alguém que não é membro de sua família imediata é o chamado cuidado não parental.


Esta necessidade de deixar a criança sob cuidados não parentais vem aumentando de acordo com a necessidade, especialmente das mulheres, de ingressar ou retornar ao mercado de trabalho. 


No Brasil existem aproximadamente 72 milhões de domicílios e mais de 200 milhões de habitantes. Mesmo em meio a tantas transformações ocorridas ao longo dos últimos anos, incluindo a maior participação das mulheres no mercado de trabalho e maior acesso à informação, as mulheres ainda dedicam mais tempo aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas.

 

Em 2019, segundo o IBGE, os homens dedicaram em média 11 horas por semana aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, enquanto as mulheres despenderam para estas tarefas cerca de 21 horas e meia de suas semanas. 

 

No caso de famílias com crianças, os afazeres domésticos incluem os cuidados com os filhos, que novamente recaem predominantemente sobre as mulheres, para que o casal possa se dedicar às demais tarefas domésticas e, sobretudo, ao trabalho remunerado.


Das mães que trabalham fora, 69% deixam seus filhos com outras pessoas, 19% com os pais e 12% em escola ou creche. Já entre os pais, 58% deixam os filhos com as mães, 36% com outras pessoas e 6% em escola ou creche.

 

Vale lembrar que temos no Brasil, segundo dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), de 2019, cerca de 11 milhões de mães solo.  

 

O que importa no cuidado não parental

A qualidade do cuidado não parental é determinada principalmente por três fatores:

  • baixa proporção adulto/criança 

  • cuidador com bom nível de formação e especialização

  • ambientes estimulantes e seguros


Estes pontos são importantes, pois os efeitos de experiências precoces de cuidados não parentais sobre o desenvolvimento de crianças pequenas podem estar diretamente relacionados à qualidade dos cuidados.


Além do cuidado não parental, as diferenças individuais encontradas em cada família farão grande diferença no futuro de cada criança. Estas diferenças na relação com seus pais e mães incluem: 

  • status socioeconômico

  • nível educacional dos pais

  • relacionamento entre pais e filhos

  • temperamento da criança 


Cuidados x Desenvolvimento 

São poucos os estudos que investigam o nível de qualidade ou que buscam determinar o nível de qualidade necessário para a otimização do desenvolvimento infantil. Mas sabe-se que o cuidado não parental de alta qualidade está associado com ganhos em desenvolvimento cognitivo, linguístico e socioemocional. 


Por outro lado, cuidados de baixa qualidade, com grupos grandes de crianças, durante muitas horas e em ambientes instáveis pode ter impacto negativo sobre o desenvolvimento infantil. Crianças pequenas que recebem esse tipo de cuidado correm risco de desenvolver apegos inseguros e problemas comportamentais mais graves. 


É também presente nas pesquisas que boas condições socioeconômicas estão frequentemente relacionadas a cuidados de melhor qualidade.


Quantidade x qualidade 

Há pesquisadores que acreditam que, ainda que haja boa qualidade, passar muito tempo em situações de cuidados não parentais nos primeiros anos de vida levam as crianças a desenvolver apegos inseguros com os pais e a manifestar níveis aumentados, ainda que não clínicos, de problemas comportamentais de externalização (por exemplo, agressividade ou desobediência).


Outros alegam que não é a quantidade de cuidados não parentais rotineiros que afeta o desenvolvimento, mas sua qualidade. 


O fato é que não havendo a opção de adiar ou reduzir a carga horária do cuidado não parental, o melhor a fazer é focar na qualidade do tempo do cuidado parental, embasados nas pesquisas sobre desenvolvimento inicial nos planos social, emocional e cognitivo que apontam que as consequências dos contextos de cuidados, no curto e no longo prazo, dependem menos da forma de cuidado do que em sua qualidade. 


Estar sob cuidados não parentais não se associa, necessariamente, ao desenvolvimento abaixo do ideal para crianças pequenas. Esse tipo de cuidado pode estar associado a um melhor desenvolvimento ou pode até mesmo ser um fator compensatório. 


Para isso, é importante garantir o melhor cuidado não parental possível dentro das possibilidades de cada família, com qualidade suficientemente boa, segurança, higiene, relações afetuosas e ambientes estimulantes, que organizem e alicercem a aprendizagem das crianças. É importante lembrar que embora a oferta de cuidados não parentais de alta qualidade seja restrita, ela não se confunde com a forma de cuidados: uma criança pode vivenciar cuidados de alta qualidade em uma grande variedade de contextos. 


Políticas públicas e privadas

Os efeitos dos cuidados não parentais desde muito cedo nem sempre implicam diretamente em uma família individualmente. No entanto, do ponto de vista de políticas públicas, os efeitos são visíveis e não devem ser menosprezados. As consequências em médio e longo prazos são grandes e podem repercutir não apenas nas famílias isoladamente, mas em toda uma sociedade.


Por esse motivo, governos e empresas podem e devem participar desta busca por iniciativas que beneficiem o vínculo familiar. Confira algumas das medidas que devem ser priorizadas:

  1. extensão das licenças maternidade/paternidade (preferivelmente remuneradas) 

  2. políticas fiscais que apoiem famílias que criam filhos pequenos, permitindo que mães e pais tenham a liberdade de fazer os arranjos que considerem mais adequados para seus filhos

  3. benefícios de cuidados não parentais de boa qualidade

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© 2021 por Lavhele Tecnologia. Criado com Wix.com. Jornalista responsável: Monica Kulcsar, Mtb 53.329/SP. 

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